As primeiras mudas de café chegaram ao Brasil no século XVIII, por volta de 1727, trazidas da Guiana Francesa pelo jovem oficial Francisco de Mello Palheta. Por ordem do então governador João da Maia da Gama, o oficial havia feito uma expedição à colônia francesa a fim de resolver alguns problemas de fronteira. Essa é a história oficial, mas muita coisa aconteceu nos bastidores.

 

 

            Nessa época, França e Holanda monopolizavam a produção e a comercialização, o café cultivado principalmente nas colônias da América do Sul e das Antilhas. Na Guiana Francesa, por exemplo, os pés de café se multiplicavam com tamanha rapidez que o governador da província, Claude d’Orvilliers, já pleiteava o monopólio entre as colônias. Com tanto dinheiro em jogo, a venda de sementes era expressamente proibida, não impedindo, porém, a chegada das mudas ao território brasileiro – episódio que envolveu um misto de cobiça, aventura e uma pitada de romance.

 

CRUZANDO A FRONTEIRA

            João da Maia da Gama tinha assumido o governo da província do Maranhão e Grão-Pará em 1722 e, de fato, estava preocupado com o país vizinho. Segundo mensageiros, Orvilliers havia modificado um marco divisório na fronteira, desrespeitando o Tratado de Utrecht, assinado entre Portugal e França, que estabelecia o rio Oiapoque como limite entre o Brasil e a Guiana Francesa o que era insulto à Coroa portuguesa. E João da Maia não perdeu tempo: além de cumprir a missão protocolar, Francisco Palheta deveria trazer, discretamente, algumas sementes da planta. O que ninguém sabia é que a tarefa seria mais fácil do que imaginavam.

            Depois de desbravar quilômetros, Palheta foi recebido com pompa no palácio do governo de Caiena, onde pôde apreciar uma boa xícara de café após o jantar, além da companhia da esposa do governador, madame d’Orvilliers, que parecia encantada com o jovem visitante. Diz a história não oficial que, nesse jantar, Palheta percebeu que não precisaria roubar nada.

            Na despedida, madame d’Orvilliers o presenteou com um singelo vaso de flores. Em meio à folhagem, estavam as sementes tão cobiçadas – uma prova de amor que comprometia não só o casamento de madame d’Orvilliers, mas provavelmente os interesses econômicos de seu marido.

            Ninguém sabe se madame d’Orvilliers e Palheta realmente tiveram um caso. O fato é que ele resolveu as questões fronteiriças e voltou ao Brasil com as sementes que, mais tarde, se tornariam o principal produto de exportação brasileiro, conhecido como “ouro verde”.

 

CAFÉ, UM ILUSTRE ANÔNIMO

            Nem bem chegou ao Brasil, o café começou a germinar no nordeste do país ainda em 1727. Dizem que o próprio Francisco Palheta, promovido a capitão-tenente, foi um dos primeiros cafeicultores. No início ninguém deu muita importância ao cultivo. A razão era simples: o Brasil vivia o auge da mineração, e os olhos da metrópole brilhavam com as toneladas de ouro e pedras preciosas extraídas das minas. Assim, apesar de Gama, Palheta e madame d’Orvilliers, o café brasileiro ficou no anonimato. Foi só a partir do início do século XIX que os grandes proprietários de terra se interessaram pelo seu cultivo. A fase mineradora havia terminado, e era preciso buscar um novo produto para trazer lucro à elite e movimentar a economia.

 

A ELITE CAFFEIRA

            A escolha não podia ter sido melhor. Segundo registros, entre 1760 e 1770, o café aportou no Rio de Janeiro. Em 1830, já ocupava o segundo lugar nas exportações do Brasil. Em 1885, o Rio de Janeiro era responsável por 70% da produção brasileira. Aos poucos, as terras cariocas se esgotaram, e a cultura cafeeira migrou para outros estados, principalmente São Paulo e Minas Gerais.

            No interior de São Paulo, o cultivo do café atingiu seu ápice. A região do vale do Paraíba oferecia solo fértil e condições de temperatura e altitude ideias. A mão de obra abundante: navios lotados chegavam da Europa trazendo imigrantes.

            Os grãos de café tilintavam como moedas. O país ditava as regras do mercado e ganhava uma nova classe social e política, a elite cafeeira, que passou a financiar a construção de ferrovias, como a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O dinheiro do café também foi o responsável pela construção de muitos e belíssimos casarões.

 

O PREÇO DA RIQUEZA

            Quilômetros de mata foram devastados para dar lugar aos pés de café. Florestas inteiras, como a da Tijuca, no Rio de Janeiro, foram substituídos por áreas de cultivo. O plantio em áreas inadequadas e a falta de conhecimento sobre os métodos de cultivo favoreceram o esgotamento do solo e a erosão intensa em diversas regiões.

 

 

 

NA POLÍTICA, NOS LIVROS E NA MÚSICA

            Dominando o cenário econômico, logo o café passou a determinar os rumos políticos. Foi assim que se instalou, a partir de 1906, a chamada “política do café com leite”, uma espécie de acordo entre São Paulo e Minas Gerais que determinava quem deveria assumir a presidência: cafeicultores paulistas e pecuaristas mineiros do ramo leiteiro se alternaram no cargo durante décadas.

            Com tanta história para contar, não faltariam livros sobre o assunto. O brasileiro Afonso d’Escragnolle Taunay é autor de História do café no Brasil, composta de 15 volumes e 6.650 páginas, considerada uma das maiores obras escritas sobre um único tema.

 

ASCENSÃO, QUEDA E RESSURGIMENTO

            A grande produção e a crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, puseram fim à fase áurea do café. Milhares de sacas foram queimadas e muitos anos se passaram até que a produção fosse reorganizada. Atualmente, o Brasil é o maior produtor e o segundo maior consumidor de café do mundo. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 2007 o país produziu 33,4 milhões de sacas do grão, o que corresponde a cerca de um quarto da produção mundial. O consumo interno também subiu de 13,7 milhões de sacas, em 2003, para 17,6 milhões em 2008. Na prática, isso significa que cada brasileiro consome 76 litro de café por ano.

 

CAFÉ TIPO EXPORTAÇÃO

            O café é um dos principais produtos de exportação do Brasil. Em 2007, mais de 24 milhões de sacas de café verde foram exportadas. Alemanha, Estados Unidos, Itália, Bélgica, Japão e Espanha são os países que mais importam o café brasileiro.

 

            Com mais de 1300 empresas de torrefação e cerca de 3 mil marcas, o Brasil também se destaca na exportação de café torrado e moído, café solúvel e cafés especiais, embora importe cafés industrializados.